jueves, febrero 20, 2014

O sacrifício. Poema de Adélia Prado

O sacrifício de Adélia Prado


Não tem mar, nem transtorno político,
nem desgraça ecológica
que me afaste de Jonathan.
Vinte invernos não bastaram
pra esmaecer sua imagem.
Manhã, noite, meio-dia,
como um diamante,
meu amor se perfaz, indestrutível.
Eu suspiro por ele.
Casar, ter filhos,
foi tudo só um disfarce, recreio,
um modo humano de me dar repouso.
Dias há em que meu desejo é vingar-me,
proferir  impropérios: maldito, maldito.
Mas é a mim que maldigo,
pois vive dentro de mim
e talvez seja deus fazendo pantomimas.
Quero ver Jonathan
e com o mesmo forte desejo
quero adorar, prostar-me,
cantar com alta voz Panis Angelicus.
Desde a juventude canto.
Desdea juventude desejo e desejo
a presença que para sempre me cale.
As outras meninas bailavam,
eu estacava querendo
e só de querer vivi.
Licor de romãs,
Sangue invisível pulsando na presença Santíssima.
Eu canto muito alto:
Jonathan é Jesus.